Como um website na sua fase inicial, é normal não recebermos muitas oportunidades para testar jogos (até não nos podemos queixar), alguns conseguimos solicitando a oportunidade para tal e outros chegam-nos através de campanhas por parte de empresas de relações públicas e isso acontece, sem grande surpresa, quando o jogo é relativamente desconhecido ou simplesmente não gerou grande interesse.
Foi através de uma destas campanhas que nos chegou a seguinte mensagem "Players Love Liao Tianding!", nunca ouvi falar deste Tianding, por isso, dei uma espreitadela no mais recente trailer, vi que era um jogo de ação 2D (género que sempre adorei) e decidi imediatamente aceitar esta oportunidade, será que fiz a escolha acertada ou acabei de sujeitar-me a algumas horas de tortura? Continuem a ler e descubram já...
The Legend of Tianding coloca-nos na pele de Liao Tianding, que de acordo com o Wikipédia (lembrem-se crianças, se está na net é porque é verdade) foi uma pessoa real de origem taiwanesa (taiwanesa? vou presumir que é uma palavra que existe no nosso dicionário), que ganhou o estatuto de lenda por ajudar o seu povo contra os governantes opressores quando Taiwan esteve sob o domínio japonês, basicamente, Liao Tianding foi o Robin dos Bosques de Taiwan.
O jogo utiliza este evento histórico como pano de fundo para o seu enredo, por isso preparem-se para ver personagens desprezíveis e pessoas em situações precárias, mas isto só ajuda a tornar as peripécias de Liao ainda mais satisfatórias, mas não posso escrever esta análise sem mencionar o meu preferido duo dinâmico, o Chefe da Polícia, Sr. Bigodes, peço desculpa, o Sr. Matsumoto e o seu subordinado Iioka Shuzo que sempre que entra em cena está a mastigar uma das várias iguarias de Taiwan. Enquanto Liao anda pelo seu dia a dia a roubar dos japoneses opressores para dar ao povo de Taiwan que mal tem comida para sobreviver, depara-se com um amuleto que, de acordo com a lenda, serve de chave em conjunto com outros dois amuletos para um tesouro escondido de um lendário pirata e parece que nós não somos os únicos com o conhecimento sobre estes amuletos.
A acompanhar este enredo bem elaborado e diversificado conjunto de personagens, está um jogo de ação 2.5D muito focado no combate (e que combate! Mas já lá vamos), com algumas secções de plataformas repletas de armadilhas, que por vezes conseguem ser mais perigosas que os inimigos comuns, mas não são mais difíceis que os bosses, porque esses são bosses com B grande. Antes de nos aventurarmos pelas perigosas "masmorras" ou áreas de combate, que vão desde esgotos, a esquadra da polícia com um segredo e um comboio em andamento, podemos explorar a cidade de Taipei, uma espécie de overworld digamos assim, onde conhecemos novas personagens, avançamos o enredo, ajudamos sem abrigos (com ajuda monetária) para receber em troca, colecionáveis com habilidades passivas que nos dão diversos bónus como darmos mais dano ou perdermos menos dinheiro quando morremos e alguns até servem para completar missões secundárias (as missões secundárias são o aspeto mais fraco do jogo porque são apenas "fetch quests", aquele tipo de missão onde temos de encontrar e entregar um item específico, e apenas com uma exceção não acrescentam nada ao mundo, personagens ou enredo).
Vamos então falar do melhor que o jogo tem para oferecer, o combate. Não temos muitas habilidades ou "Moves" de Kung Fu à nossa disposição, mas em contrapartida as poucas que existem combinam perfeitamente umas com as outras, criando um combate muito fluído e satisfatório. À medida que vamos jogando e aperfeiçoando as nossas capacidades de combate e começamos a combinar as diferentes habilidades, é tão gratificante limpar mais de uma dezena de inimigos com ataques continuos sem ser atingido uma única vez. Para além das suas habilidades de Kung Fu, Liao pode rebolar para evitar ataques inimigos (alguns não podem ser evitados), pode saltar e claro o duplo salto (e com a ajuda de um amuleto, o triplo salto!) e por último mas não menos importante, o lenço que o Liao utiliza para amarrar os inimigos e libertá-los dos seus pertences, incluindo a arma que tiver equipada, isto significa que podemos roubar as armas dos inimigos quer sejam espadas, pistolas e até mesmo lança rockets, mas não se habituem por estas têm uso limitado.
Eu a falar assim, dá a sensação que o jogo que somos um super-herói imparável e de certa forma, se jogarmos bem é assim que nos sentimos a lutar quando enfrentamos os inimigos comuns, mas não se preocupem, essa sensação varre-se instantaneamente assim que somos confrontados por um boss, aqui preparem-se para apanhar forte e feio, pelo menos até aprenderem os padrões de ataque de cada um desses bosses, apenas sei que cada um destes confrontos, foi um evento excitante, irritante (ninguém gosta de apanhar forte e feio), esgotante, mas no momento da vitória, extremamente gratificante.
Se não é ainda evidente depois deste último parágrafo, que The Legend of Tianding é um jogo extremamente duro, então deixem-me ser mais claro, The Legend of Tianding é um jogo difícil, muito difícil, especialmente nos combates contra os bosses, mas isso não te vai impedir de desfrutares da linda história que o jogo conta, porque podes optar por escolher a dificuldade "Gentleman Thief" que reduz a consideravelmente o dano que tomamos, tanto dos inimigos como das armadilhas e aumenta o dano que damos.
Sendo um jogo 2.5D, The Lengend of Tianding mistura personagens 3D com uma linda arte 2D como pano de fundo, as animações das personagens são fluidas e muito bem animadas e os cenários 2D com o estilo pintado à mão são espetaculares, embora ache que alguns dos cenários poderiam ter sido mais trabalhados. Nas cenas de história onde supostamente existe mais movimento e interação entre personagens, o estúdio optou por mostrar essas interações através de quadros pintados à mão, muito ao estilo manga e penso que seguiram pelo caminho certo, porque desta foram conseguiram dar muito mais personalidade às personagens e às cenas, do que iriam conseguir fazer com os modelos 3D, que apesar de estarem bem concebidos têm as suas limitações.
Como se o aspeto visual não fosse o suficiente para te transportar para Taipei de 1900 e picos, as músicas vão certamente colocar-te num Delorean (aquele carro do Regresso ao Futuro) e vão levar-te numa viagem ao passado, fiquei literalmente cinco minutos parado (tenho testemunhas), enquanto uma velhota na cidade tocava e contava sobre as minhas aventuras. Apesar de o jogo não ser totalmente falado, existe trabalho de vozes em certos momentos, apenas em... ¿Chinês?, se calhar estou a ofender alguém com a minha burrice, mas é o que me parece ser o idioma falado, não sei dizer se é bom ou mau, mas se for mau conseguiram-me enganar bem enganado.
Acho que não preciso de dizer muito mais para mostrar que adorei cada segundo deste jogo, foi sem dúvida uma surpresa saborosa, como quando comes gelado ou pizza pela primeira vez. A única coisa que não consigo entender, é como este jogo não é mais falado e conhecido. Quer seja pelo diversificado conjunto de personagens e história envolvente, ou pela ação e combate de grande qualidade, deves-te a ti próprio experimentar The Legend of Tianding.
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